Foi em 27 de fevereiro, o anúncio do primeiro caso. Estamos chegando no quinto mês da pandemia e a quase 80 mil vítimas no país. Ainda temos que tomar todos os cuidados, mas já passou da hora de um “levanta e sacode a poeira”. Há inúmeros desafios para as empresas e também oportunidades para sobreviver e se recuperar do coronavírus. Práticas como Lean Thinking e Agile serão ferramentas fundamentais para isso.
Os desafios e oportunidades são diferentes para cada setor da economia. Aqueles ligados ao turismo, por exemplo, como transporte aéreo, hotelaria, cultura e entretenimento devem ter mais dificuldade de recuperação. Outro como comércio on-line, delivery e saúde.
A boa notícia (se é que pode se chamar de boa!) é que os problemas e desafios não são exclusividade da sua empresa. Um estudo da Accenture divulgado em maio apontou que 75% das empresas reportaram que tiveram impactos negativos da pandemia e 55% reduziram as previsões de crescimento. Então, estamos todos praticamente no mesmo ponto de repensar as estratégias, fortalecer-se e retomar.
Retomada pós-pandemia pode ser rápida?
Mas, há boas notícias (de verdade). A primeira vem de uma pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), realizada em junho, em que 49% dos entrevistados aposta que suas finanças voltarão ao patamar anterior à COVID-19 em um ano. Entre eles, 21% acreditam que em seis meses irão recuperar seu poder financeiro.
O estudo, realizado com 1000 pessoas que representam todos os estrados e regiões da população bancarizada brasileira, mostra algumas oportunidades e desafios que você precisa considerar nos planos de sua empresa. Muitos deles, provavelmente um reflexo do receio de contaminação por covid-19, que pode arrefecer com o passar do tempo, comprovação de medicação que contenha a letalidade ou advento de uma vacina:
- 37% irão diminuir suas viagens;
- 27% querem aumentar o home office;
- 28% planejam usar mais os serviços de delivery;
- 45% afirmam que irão dedicar mais tempo à família e aos filhos;
- 30% pretendem comprar mais via e-commerce;
Os entrevistados também apontaram que irão aumentar ou manter a frequência de visitas aos seguintes estabelecimentos:
- 78% dos pesquisados a supermercados;
- 66% aos salões de beleza
- 55% ao comércio de rua
- 47% a bares e restaurantes
- 46% a shoppings
Retomada da economia está ocorrendo em V
No início de julho, o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apontou a percepção de que a retomada da economia global e brasileira estaria ocorrendo em V. É uma figura da economia para uma grande depressão econômica seguida de uma recuperação acelerada. Roberto Campos chega a essa conclusão no Brasil, analisando os dados de junho de energia, tráfego, arrecadação e volumes de transações financeiras.
Inspira cuidados e ação
Apesar da visão do Presidente do BC, o Índice de Atividade Econômica do próprio Banco Central, o IBC-Br, frustou analistas que postam numa recuperação mais lenta da economia. De qualquer forma, o mês de maio já registrou uma alta de 1,3% no desempenho da economia ante o mês de abril, que teve uma queda retumbante de -9,45%. Já é um alívio. Há analistas que consideram um bom indicador. Outros, esperavam que a atividade já estivesse acima de 3,0%.
Ou seja, espera-se mais ação do Congresso e do Ministério da Economia para as reformas tributária e administrativa. Mais ainda para acesso a crédito e estímulo à economia.
E na empresa? Agile, Lean
Falar em foco e eficiência soa “chover no molhado”. Mas, também não podem ficar no plano da retórica. Garantir a sobrevivência e trilhar um bom caminho de retomada demanda aproveitar muito bem os aprendizados dessa crise e ter disciplina na condução da empresa. E mais: mudar o mindset. Vem à baila abordagens (necessárias) como Agile, Lean Thinking, kanban, Scrum, OKR. Vamos abordar essas práticas em alguns artigos.
Não é questão de pandemia. A tecnologia deu saltos incríveis – Internet, Social, Mobile, Cloud, Big Data. E o consumidor mudou: baby boomers, geração x, y, z, w e agora, 2010, os Alpha. O mundo é cada vez mais digital. As relações estão mudando e a Covid-19 foi um gatilho de aceleração. É preciso fazer diferente. Repetindo pela enésima vez Einstein: não dá para fazer igual e esperar resultados diferentes.
LEAN THINKING
No Japão do pós-guerra, nasceu o lean production ou lean manufactoring. A tônica é evitar desperdício, reduzir custos e melhorar a qualidade. Numa visão mais abrangente, saindo da linha de produção, a abordagem torna-se lean thinking – um modelo de gestão que organiza o trabalho de formar a gerar mais valor para a empresa e a própria sociedade.
Uma empresa lean é sustenta-se na satisfação de clientes e colaboradores, oferecendo produtos e serviços inovadores, de alto valor agregado e lucrativos por eliminar custos desnecessários para clientes, fornecedores e para a sociedade.
Mais recentemente, Eric Ries escreveu o livro LEAN START UP com princípios similares: eliminar desperdício de tempo, custo ou recursos para garantir qualidade maior e menor time-to-market.
Manter uma empresa leve, eliminando custos desnecessários, é fundamenta nessa travessia pela qual estamos passando hoje.
AGILE
A denominação “Metodologia Ágil” surgiu nos anos 2000 e explodiu, ao menos em notoriedade, na última década, para se contrapor às metodologias tradicionais na área de desenvolvimento de software, especialmente por pegar um grande objetivo, conceito de produto ou escopo de projeto e transformar em subprodutos ou projetos menores.
A abordagem também reduz ou elimina hierarquia para apostar mais em colaboração. Interna e com o próprio cliente. O Agile transforma a criação e desenvolvimento de produtos e projetos em processos mais iterativos para alcançar respostas rápidas para mudanças, descartando planos engessados e pré-concebidos. Outra forma de reduzir desperdícios e focar em efetividade.
As atividades são divididas em Sprints (um período de tempo curto para o desenvolvimento de um conjunto de atividades priorizadas. Ou seja, se o seu produto ou seu projeto tem um conjunto de ações ou “goals”, você os separa e prioriza criando 1,2,3, 10, n Sprints. Cada Sprint tem um product a ser atingido.
Como Agile e Lean podem ajudar na pandemia
Essas abordagens têm em seu cerne três filosofias que devem ser incorporados por toda a empresa e não só pela operação, planta produtiva, área de desenvolvimento de software ou de produtos:
- SER ENXUTO NA PRODUÇÃO: produzir apenas quando for necessária; produzir a quantidade necessária; produzir no tempo correto e na qualidade desejada
- MELHORIA CONTINUA: rever processos para fazer melhor e mais rápido
- AUTOMAÇÃO: para eliminar o gasto de tempo com atividades operacionais de baixo valor agregado.
- ADAPTAÇÃO RÁPIDA: capacitar-se a fazer um PDCA (Planejar-Fazer-Checar-Adaptar) mais rápido
É muito provável que parte dessas técnicas estejam nascendo na sua empresa de forma intuitiva, graças à pandemia. Com o distanciamento social, todos nós percebemos que não estávamos preparados para a imprevisibilidade. Ao menos, para tamanha imprevisibilidade.
Incorporamos rapidamente a ideia de adaptação rápida. Em alguns dias e semanas, colocamos a empresa em home office, criamos novos canais de contato, mudamos logística, criamos novos produtos e serviços.
As reuniões tornaram-se mais produtivas e as empresas se desburocratizaram. Decisões que eram tomadas em semanas passaram a ter um ciclo de dias, as vezes horas. As empresas perderam hierarquia em nome de realizar mais rápido. Pois bem: agora somos AGILE e LEAN!!!!!!
O coronavírus é a maior calamidade pública do nosso século e o maior desafio pela qual nossas empresas já passaram. Teremos ainda mais obstáculos e oportunidades e um ambiente de negócios desafiador: violações de dados, guerra comercial, crise política, crise econômica. O “old business” não é capaz de responder as necessidades de inovação e adaptação. A empresa precisa ser enxuta e ágil para fazer frente a esse “darwinismo empresarial”.